Postura e equilíbrio corporal: um estudo das relações existentes

Bankoff, A.D.P.
Campelo, T. S.
Ciol, P.
Zamai, C.A.

Laboratório de Eletromiografia e Biomecânica da Postura

Faculdade de Educação Física - Unicamp



RESUMO


O objetivo deste trabalho foi de estudar a possível relação entre a postura corporal e o equilíbrio corporal postural. Assim sendo, este trabalho proporciona discussões em três focos. Uma enfatizando aspectos relevantes a postural corporal destacando que a postura corporal é uma característica individual das pessoas. A segunda, analisando o equilíbrio corporal postural comparando parâmetros de oscilação do centro de pressão, em apoio bipodálico e monopodálico, com os olhos abertos e fechados. E por fim analisar as correlações entre os dados da postura corporal e os dados do equilíbrio corporal postural. Para a realização deste estudo foram utilizadas duas avaliações, a primeira tratou-se da avaliação postural computadorizada da Micromed Biotecnologia e a outra, utilizou-se o baropodômetro eletrônico da Physical Support Italy, ambas aplicados em 16 sujeitos masculinos sedentários, com idade variando de 29 a 51 anos. Verificou-se maior oscilação do centro de pressão com os olhos fechados em apoio monopodálico. Também foi verificado que em quase todas as correlações houve a ocorrência de valores não significativos para p<0.05, apenas na correlação entre os valores da linha glútea e o apoio monopodálico esquerdo olho fechado, a relação foi significativa. Pode-se concluir que apesar da postura corporal estar intimamente ligada ao equilíbrio corporal postural, a mesma não é determinante para proporcionar alterações no equilíbrio corporal postural.

Introdução


O estudo do equilíbrio corporal e da postura corporal proporciona aspectos que estão englobados no sistema chamado de controle postural. Dentro deste sistema existem dois parâmetros a serem considerados, um envolvendo a orientação postural, ou seja, a manutenção da posição dos segmentos corporais em relação aos próprios segmentos e ao meio ambiente, e o outro, o equilíbrio postural, representado por relações entre as forças que agem sobre o corpo na busca de um equilíbrio corporal durante as ações motoras (Horak e Macpherson, 1996). Estes dois, a orientação postural e o equilíbrio postural são constituídos por fenômenos distintos, no entanto, apresentam relações dependentes (BARCELLOS e IMBIRIBA, 2002).

Esta relação de dependência pode ser evidenciada por mecanismos fisiológicos referente ao sistema de controle postural. O sistema vestibular é constituído por uma estrutura óssea, o labirinto, localizado no osso temporal e tendo interiormente as estruturas membranosas (Tavares, 1984). Este sistema é um dos responsáveis pela orientação espacial do corpo em situações estáticas e dinâmicas, tornando-se uma dos componentes determinantes no equilíbrio corporal (Friedman, 1986). Outro sistema importante no controle postural é o sistema proprioceptivo, formado pelos proprioceptores que são os fusos musculares, órgãos tendíneos e receptores articulares, em que o corpo humano é um sistema composto por elos e que movimentos de um segmento do corpo interfere em todo sistema (Enoka, 2000). O sistema visual possui relações significativas com o controle postural, pois, segundo Vander et al (1981) pessoas que tiveram os órgãos vestibulares destruídos, mantendo em funcionamento o sistema visual, receptores articulares e cutâneos, demonstraram uma pequena inabilidade em suas vidas diárias, apresentando apenas dificuldades de caminhar no escuro, em terrenos acidentados e escadas. No sistema visual, a retina é sensibilizada por ondas eletromagnéticas visíveis, que por sua vez são transmitidas ao córtex visual localizado na região occipital, determinando modificações no tônus da postura (Douglas, 2002). No controle postural existe também a parcela de contribuição do cerebelo, ou seja, impulsos originados em receptores das articulações, tendões, músculos, pele e também de órgãos terminais do sistema visual, auditivo e vestibular interagem com o cerebelo para que ocorra a influência do mesmo sobre a atividade muscular concretizando sua importância no controle do movimento.

Em relação à postura corporal ou orientação postural alguns aspectos devem ser considerados. Gardiner (1986) enfatiza que a manutenção da postura corporal ocorre através de músculos antigravitacionais que possuem características que permitem adaptações com pouco esforço. As fibras musculares destes músculos são vermelhas de contração prolongadas sem fadiga e multipenadas em forma de leque, em que estas características proporcionam uma configuração poderosa com pouca amplitude de movimento. A postura corporal possui fatores biológicos determinantes, no entanto, Massara (1986) destaca que a orientação postural não se resume apenas à expressão mecânica do equilíbrio corpóreo, mas também a expressão somática da personalidade, considerando fatores de ordem psicofísica e socioambientais. Neste sentido Bankoff (1990) enfatiza a individualidade de cada pessoa, frente aos diversos acontecimentos existentes, que desenvolve uma determinada postura corporal envolvendo conceitos de equilíbrio, de coordenação neuromuscular e adaptação representando um determinado movimento corporal.

Assim sendo, este trabalho utiliza dados sobre a postura corporal, coletado através da análise postural computadorizada, e dados sobre o equilíbrio corporal postural, provenientes da baropodômetria eletrônica com o intuito de verificar assimetrias, desníveis e desvios posturais, o equilíbrio corporal postural e as oscilações do centro de pressão e correlacionar os desvios e assimetrias posturais com o equilíbrio corporal postural.

Metodologia

População de Estudo



Este estudo avaliou 16 sujeitos masculinos sedentários, com idade entre 29 e 51 anos, os quais foram submetidos à avaliação postural computadorizada e a baropodometria eletrônica.



Material e procedimento


 Os dados da postura corporal foram fornecidos pelo software de análise postural computadorizada da Micromed Biotecnologia versão 3.0. A análise postural computadorizada é um sistema complexo que permite a captura de imagens e medidas de ângulos e distância da postura corporal humana, baseando-se na marcação de pontos anatômicos pré-determinados.

Este instrumento de análise é formado basicamente por uma câmera de vídeo padrão VHS, um computador, um fio de prumo, um tripé e uma lona preta de fundo, que juntamente com o software formam o conjunto necessário para a aquisição de dados.

Na execução do experimento a câmera foi instalada sobre o tripé a uma distância de 3,12 metros do fio de prumo, a uma altura do foco da câmera de 99 cm em relação ao chão e o fio de prumo situado próximo à lona de cor preta, ambos pendurados no teto. Os sujeitos com os pontos anatômicos demarcados de acordo com o protocolo de Lesefe, posicionavam-se em frente à câmera com a lona preta servindo de fundo para a aquisição das imagens nos planos frontal posterior e sagital direito. O protocolo de Lesefe está resumido na (tabela 1).

Tabela 1 Demarcação dos pontos anatômicos para Avaliação Postural Computadorizada - Protocolo de Lesefe. 
Plano frontal posterior
PLANO SAGITAL DIREITO



Acromial (AC)
Cervical (CE)


Escapular (ES)
Dorsal (DO)


Olecrano (OL)
Sacral (SA)


Linha Glútea (LG)
Acrômio/C. Umbilical (ACU)


Linha Poplítea (LP)
Lombar (LO)


Calcâneo/Linha Glútea (CLG)
Maleolar/L. Poplítea Proj. (MLPP)


Fonte: Manual da de Avaliação Postural Computadorizada - Micromed Biotecnologia. p. 72, 1998.

 Apesar de processar a aquisição de todos os dados deste protocolo, para este estudo foram utilizados apenas os dados relacionados à angulação cervical, dorsal, sacral e lombar no plano sagital direito e angulação acromial, escapular, da linha glútea e poplítea no plano frontal posterior.

O aparelho baropodômetro eletrônico da Physical Support Italy, que coletou os dados referentes ao equilíbrio postural é composto por uma plataforma modular de aproximadamente 3 metros de comprimento, contendo sensores eletrônicos de platina revestidos por um capturador em cacho alveolar em uma superfície de 120 cm de comprimento por 42 cm de largura, responsáveis pela captação das informações existente no aparelho. Esta plataforma está conectada a um computador que reproduz imagens e os dados coletados. Este aparelho fornece informações relacionadas à análise estática, dinâmica, e estabilométrica. Apesar das diversas análises fornecidas por este aparelho, este trabalho tem seu enfoque voltado para os dados obtidos pela análise estabilométrica. A análise estabilométrica apresenta informações da oscilação do centro de pressão do corpo no sentido antero-posterior (eixo y) e lateral (eixo x), expressa em (cm), e da área de oscilação do centro de pressão do corpo, tendo o (cm2) como unidade. Para este estudo os sujeitos, sem a utilização de qualquer tipo de calçado, permaneciam durante 5 segundos sobre a plataforma para que cada situação fosse analisada. Na primeira situação os sujeitos ficavam em apoio bipodálico (apoio sobre os dois pés) com os braços no prolongamento do corpo, alternando olhos abertos e fechados. Posteriormente o teste foi executado em apoio monopodálico (apoio sobre um pé) em ambas as pernas, sendo que, os sujeitos apoiavam-se sobre um pé só, tendo a outra perna elevada com uma leve flexão do joelho e os braços respeitando o mesmo padrão do apoio bipodálico. No apoio monopodálico os estímulos visuais também foram alternados em olhos abertos e fechados para cada procedimento.

Tratamento estatístico 
Após a aquisição dos dados relacionados à análise postural computadorizada e a baropômetria eletrônica, através do programa de estatística da “Statistica 6.0”, foram realizadas análises baseados no cálculo do coeficiente de correlação simples de Pearson “ r ” para verificar a existência de uma correlação significativa, p<0,05, entre a postura corporal e o equilíbrio postural corporal.  

Resultados e Discussão  
Os ângulos apresentados na (tabela 2) caracterizam as posturas individuais do grupo, segundo a análise postural computadorizada. Com estes valores não é possível afirmar que a postura de um dos sujeitos está errada, pois, a postura não se resume apenas a números, existe uma complexidade maior, como cita Bankoff (1994), na postura corporal são convergidos elementos, que caracterizam o movimento, envolvendo fatores anatomo-funcionais, socioambientais e psico-emotivos.

Em relação ao equilíbrio corporal postural, primeiramente apresenta-se a (tabela 3), tabela descritiva dos dados obtidos durante a execução do experimento no baropodômetro eletrônico. Segundo Oliveira et al (2000) o equilíbrio corporal pode ser analisado pela estabilometria, que quantifica as oscilações do corpo no sentido antero-posterior (y) e lateral (x) verificando o deslocamento do centro de pressão.

A oscilação postural corporal, segundo Smith et al (1997) está relacionada às correções que o corpo faz para manter a linha do centro de gravidade dentro da base de sustentação, destacando ainda que a instabilidade constante do equilíbrio pode ser explicada pela altura do centro de massa e uma base de suporte relativamente pequena. Assim sendo, verificamos nos dados uma maior oscilação no apoio monopodálica concordando com este autor.

Tabela 2: Média geral dos ângulos em graus, obtida através da avaliação postural computadorizada em sujeitos masculinos sedentários.

Plano frontal posterior



Plano sagital direito

Sujeitos
AC
ES
LG
LP

CE
DO
SA
LO













01
-0,98
-0,98
-0,98
-0,98

23,29
17,49
19,62
-15,89
02
-0,6
-0,6
2,41
-0,6

33,89
31,54
15,45
-10,12
03
1,0
-2,93
5,37
-0,64

30,36
38,69
16,49
-9,51
04
-0,37
-0,37
-4,46
-1,09

19,98
28,01
20,73
-17,29
05
-0,94
1,45
2,24
1,66

32,73
31,51
21,41
-20,17
06
1,1
2,04
2,89
-3,55

24,34
34,22
27,3
-11,65
07
-0,96
4,01
1,9
2,05

32,27
33,06
15,3
-17,36
08
-0,95
-0,95
4,49
4,25

52,8
35,92
13,07
-13,24
09
1,73
-3,77
2,09
5,43

36,94
23,22
28,13
-1,24
10
-2,63
-3,48
-4,36
-3,72

28,8
23,28
31,06
-16,39
11
1,89
1,52
2,16
-4,58

28,51
28,01
19,8
-8,1
12
0,39
-3,77
1,95
1,29

33,38
27,17
17,42
-20,68
13
-1,01
1,48
1,11
-3,61

22,15
17,98
23,97
-15,81
14
-4,03
-3,66
1,8
-4,3

20,22
24,44
14,61
-10,13
15
1,64
1,24
3,44
1,16

30,06
20,89
13,12
-6,63
16
3,15
1,97
-7,58
-1,04

31,91
29,26
11,26
-15,49












MÉDIA
1,46
-0,43
0,90
-0,52

30,10
27,79
19,30
-13,11












DESV.PAD
1,02
2,51
3,51
3,01

7,95
6,26
5,86
5,26







Acromial (AC) Cervical (CE)
Escapular (ES)

Dorsal (DO)


Linha Glútea (LG)
Sacral (SA)

Linha Poplítea (LP)
Lombar (LO)


No entanto, Barcellos e Imbiriba (2002), investigaram o equilíbrio corporal, através da plataforma de força, em um grupo de 4 bailarinas. Este estudo comparou as relações envolvendo o equilíbrio corporal entre a posição ereta normal e a posição em ponta do balé clássico com os pés paralelos. Apesar da oscilação na direção antero-posterior ter sido significativa, outros parâmetros como a freqüência média de oscilação e a área de deslocamento não apresentaram diferenças significativas, o que contribui no sentido de confirmar, como são complexas as relações do controle postural, que mesmo apresentando uma base relativamente menor, as bailarinas conseguiram apresentar resultados parecidos nas duas posições. O comportamento destas bailarinas provavelmente está relacionado às adaptações do organismo em relação ao equilíbrio corporal Enoka (2000), destaca que a postura corporal dentre outros aspectos está relacionada às informações sensoriais que são de fontes somatossensoriais, vestibulares e visuais, em que pessoas que possuem um algum problema em um destes sistemas sensoriais, esta apta a aprender a depender dos outros dois.

Nos aspectos relacionados às influências dos testes com os olhos abertos e fechados, (figura 1) e (figura 2) verificamos que os sujeitos apresentaram uma tendência maior de oscilação com os olhos fechados. O equilíbrio é extremamente influenciado pelo sentido da visão e a estabilidade da postura corporal torna-se mais complicada com os olhos fechados. (LATASH, 1998)

Tabela 3: Média e desvio padrão da área de oscilação (cm2), do centro de pressão do corpo e da oscilação lateral e antero-posterior (cm) do centro de pressão do corpo, referentes à avaliação estabilométrica. N = 16 sujeitos do sexo masculino.


Mínimo
Maximo
Média
Desvio Padrão





BOAX
0,00
0,64
0,31
0,21
BOAY
0,00
1,65
0,44
0,45
BOACM
0,00
0,85
0,13
0,23
BOFX
0,11
0,60
0,35
0,14
BOFY
0,17
1,16
0,43
0,29
BOFCM
0,01
0,42
0,09
0,11
MDOAX
0,64
5,00
1,43
1,03
MDOAY
0,42
4,28
1,21
1,00
MDOACM
0,16
7,86
1,07
1,89
MDOFX
1,34
9,98
4,00
2,32
MDOFY
1,71
8,32
4,35
2,05
MDOFCM
1,13
31,28
10,73
8,22
MEOAX
0,55
3,11
1,49
0,79
MEOAY
0,56
2,68
1,21
0,56
MEOACM
0,16
3,04
0,92
0,90
MEOFX
1,64
18,89
5,73
5,25
MEOFY
1,29
11,50
4,46
2,52
MEOFCM
1,11
112,06
21,77
32,89





BOAX - Apoio bipodálico olho aberto e oscilação lateral do centro de pressão.

BOAY - Apoio bipodálico olho aberto e oscilação ântero-posterior do centro de pressão.

BOACM - Apoio bipodálico olho aberto e área de oscilação do centro de pressão. BOFX - Apoio bipodálico olho fechado e oscilação lateral do centro de pressão.

BOFY - Apoio bipodálico olho fechado e oscilação ântero-posterior do centro de pressão.

BOFCM - Apoio bipodálico olho fechado e área da oscilação do centro de pressão. MDOAX - Apoio monopodálico direito olho aberto e oscilação lateral do centro de pressão.

MDOAY- Apoio monopodálico direito olho aberto e oscilação ântero-posterior do centro de pressão.

MDOACM - Apoio monopodálico direito olho aberto e área da oscilação do centro de pressão.

MDOFX- Apoio monopodálico direito olho fechado e oscilação lateral do centro de pressão.

MDOFY- Apoio monopodálico direito olho fechado e oscilação ântero-posterior do centro de pressão.

MDOFCM - Apoio monopodálico direito olho fechado e área da oscilação do centro de pressão.

MEOAX -Apoio monopodálico esquerdo olho aberto e oscilação lateral do centro de pressão.

MEOAY- Apoio monopodálico esquerdo olho aberto e oscilação ântero-posterior do centro de pressão.

MEOACM - Apoio monopodálico esquerdo olho aberto e área da oscilação do centro de pressão.

MEOFX - Apoio monopodálico esquerdo olho aberto e oscilação lateral do centro de pressão.

MEOFY - Apoio monopodálico esquerdo olho aberto e oscilação ântero-posterior do centro de pressão.

MEOFCM - Apoio monopodálico esquerdo olho aberto e área da oscilação do centro de pressão.

B – bipodálico; M – monopodálico; Y - oscilação ântero-posterior em cm; X - oscilação lateral em cm; CM - área de oscilação em cm2; AO - olho aberto; OF - olho fechado.
Segundo Barela (2000) a projeção do cenário ambiental na retina do observador implica ações do organismo com o intuito de minimizar e corrigir oscilações corporais, como no caso do deslocamento frontal, em que a imagem projetada na retina é aumentada, proporcionando uma interpretação de um aumento da oscilação na direção frontal, este quadro provoca reflexos musculares para interagir com esta situação, aspecto que é dificultado através da diminuição ou extinção desta informação.

Duarte e Zatsiorsky (2002) realizaram um trabalho com o objetivo de estudar a manutenção do equilíbrio humano em diferentes inclinações posturais e em tipos distintos de informações visuais. Estes autores verificaram que o controle do equilíbrio, em ambos os casos, sofreram influências consideráveis.

Realizando análises correlativas, através do software Statistica 6.0, entre os dados da avaliação postural computadorizada e da baropodômetria eletrônica, obtêm-se resultados mostrados na (tabela 4). Os resultados não apresentaram correlação significativa para quase totalidade das análises. Apenas a medida da angulação da linha glútea, correlacionada com a posição monopodálica da perna esquerda e olho fechado, apresentaram resultados estatisticamente significativos, para p<0,05. Assim sendo uma possível resposta para este quadro é a adaptação que o organismo humano é capaz de realizar diante de diferentes situações.

A manutenção postural está em constantes adaptações, como Barela (2000) afirma que a orientação postural está relacionada a uma estabilidade entre o indivíduo e o meio externo, utilizando continuamente informações sensoriais e ação motora pelo sistema postural.

Uma postura correta é indispensável para um bom equilíbrio, mas que uma postura não correta não implica obrigatoriamente num distúrbio do equilíbrio. Por exemplo, um paciente com escoliose dorsal apresenta um problema postural, mas nem por isso apresenta distúrbio do equilíbrio corporal. Este autor também destaca que é previsível, com isso, não considerar sinônimo os dois termos; o equilíbrio é certamente um conceito muito complexo e dinâmico, a postura é um momento “estático” com limite de oscilações muito restrito e o equilíbrio é o momento dinâmico que pode ser mantido ainda com maior ou menor oscilações. (GUIDETTI, 1997).

Tabela 4: Correlação entre os dados da Postura Corporal (plano frontal posterior e plano sagital direito) e os dados do Equilíbrio Postural Corporal. 

AC
ES
LG
LP
CE
DO
SA
LO









BOAX
0,07
-
0,201
0,08
0,28
0,07
-
-

75
0,15
9
57
15
34
0,21
0,06


2




1
3
BOAY
-
-
-
0,04
0,06
-
-
0,15

0,04
0,29
0,053
17
42
0,15
0,01
55

9
4



8
7

BOACM
-
-
-
0,06
-
-
0,12
0,25

0,08
0,23
0,165
77
0,10
0,26
46
45

81
42
8

59
05











BOFX
-
0,01
0,059
0,29
-
0,24
0,10
-

0,01
04
2
15
0,11
48
47
0,15

68



36


71
BOFY
-
0,00
0,443
-
-
0,20
-
-

0,01
58
8
0,41
0,05
9
0,06
0,31

47


42
29

16
75
BOFCM
-
-
0,304
-
-
0,25
-
-

0,19
0,06
7
0,36
0,09
39
0,20
0,34

99
1

73
61

85
45
MDOAX
0,05
-
0,212
-
-
-
-
0,05

1
0,20
7
0,21
0,21
0,27
0,10
06


87

79
44
46
26

MDOAY
-
-
0,096
-
-
-
-
0,22

0,05
0,38
1
0,36
0,10
0,12
0,14
34

77
76

13
53
99
88

MDOACM
0,04
-
-
-
-
-
-
0,11

22
0,23
0,170
0,25
0,23
0,36
0,08
94


16
7
45
79
26
55

MDOFX
0,21
0,28
-
0,12
-
0,13
0,02
0,28

71
77
0,156
56
0,10
85
78
51



7

33



MDOFY
0,09
0,17
0,347
0,36
0,12
0,37
0,40
-

32
52
5
64
77
68
06
0,37








91
MDOFCM
0,14
0,26
0,016
0,20
0,00
0,37
0,24
0,07

37
31
2
07
6
49
65
61
MEOAX
0,08
-
-
0,21
0,07
0,29
-
-

59
0,27
0,008
92
7
03
0,29
0,21


96
9



63
1
MEOAY
0,38
-
-
0,48
-
0,12
-
-0,28

99
0,04
0,085
6
0,11
68
0,08



07
7

95

55

MEOACM
0,24
-
0,049
0,34
0,17
0,28
-
-

89
0,11
4
26
73
73
0,30
0,20


31




25
94










MEOFX
0,16
-
0,559
-
0,34
0,34
-
0,35

34
0,22
8 *
0,26
44
24
0,42
98


7

6


7

MEOFY
-
-
0,511
-
-
0,36
-
0,31

0,09
0,23
6*
0,36
0,24
2
0,34
13

41
37

58
86

33

MEOFCM
0,15
-
0,610
-
0,20
0,29
0,29
0,38

24
0,26
1*
0,30
18
74
74
35


17

05




  * p < 0,05
Braccialli e Vilarta (2001) destacam que a herança genética não é o único aspecto a ser considerado como resultado do homem, pois existem outros fatores externos e internos, biológicos, sociais e ou culturais, momentâneos ou definitivos, que estão constantemente influenciando o mesmo, ou seja, situações que proporcionam constantes adaptações do organismo.

A determinação de uma porcentagem de importância para um sistema aferente é extremamente difícil e que o sistema global é tão adaptável que um indivíduo cego mantém bem seu equilíbrio com uma pequena perda de precisão. (VANDER et al, 1981).

Perrin et al (2002) realizaram um trabalho científico para estudar a adaptação sensomotora entre judocas, dançarinas e um grupo controle. Este trabalho concluiu que com os olhos abertos judocas e dançarinas indicaram um aspecto mais significativo, em relação ao sistema sensomotor, do que o grupo controle, e também que com os olhos fechados somente os judocas apresentaram uma melhora significativa, ou seja, este quadro de adaptação presente nos grupos acima, é um aspecto que contribui para a explicação da não existência de uma correlação significativa entre a postura e o equilíbrio corporal postural apresentada neste trabalho.

Com o objetivo de estudar os mecanismos de feedback e feedforward em idosos, durante a manutenção da postura ereta, Godoi e Barela (2002) realizaram um trabalho concluindo que os idosos apresentaram funcionamentos dos mecanismos de feedback e feedforward similar aos dos adultos jovens, mesmo a  sugerindo haver alterações no mecanismo de feedback nessa faixa etária. Este trabalho também verificou que o grupo de idoso apresentou um menor deslocamento do centro de pressão comparado ao grupo mais jovem, sugerindo que estes grupos utilizam estratégias comportamentais diferenciadas para restabelecer o equilíbrio.

Considerações finais 
Este trabalho apresentou valores em graus, que caracterizavam a postura de cada sujeito baseado na análise postural computadorizada. Estes dados não podem ser considerados como uma representação de uma postura correta ou incorreta, mas sim parâmetros de auxílio para uma abordagem individual da postura de um sujeito, haja vista que a postura não abrange apenas fatores genéticos e biofísicos, mas também aspectos culturais, sociais e psicoemocionais.

Em relação à avaliação do equilíbrio postural corporal do grupo, através do baropodômetro eletrônico, houve uma incidência de resultados já mencionados pela literatura, ou seja, os sujeitos tiveram um comportamento de maior amplitude de oscilação do centro de pressão no apoio monopodálico com os olhos fechados.

Por fim, após aplicar o teste de correlação entre os valores obtidos com a avaliação postural computadorizada e os valores da baropodômetria eletrônica, este estudo verificou que em quase todos as correlações ocorreu um quadro de relações não significativas para p< 0,05, apenas no apoio monopodálico perna esquerda e a linha glútea houve uma correlação significativa. Tal aspecto pode ser explicado pela adaptação que o organismo humano é capaz de fazer frente a constantes estímulos, ou seja, mesmo a postura apresentando desníveis, assimetrias ou desvios acentuados, isto não significa necessariamente que o equilíbrio postural corporal sofrerá alterações.



Referências Bibliográficas 

BANKOFF, A.D.P.; MASSARA, G.; RONCONI, P. et al. Estudos das alterações morfológicas do sistema esquelético decorrente do treinamento físico em atletas de levantamento de peso através de técnicas computadorizadas. In: Anais do Congresso Panamericano de Anatomia, 9., 1990, Trujillo. Resumo..., 1990.



BANKOFF, A.D.P.; MORAES, A.C; GALDI, E.H.G.; PELEGRINOTTI, I.L.; MOREIRA, Z.W. Alterações morfológicas do sistema locomotor decorrente de hábitos posturais associados ao sedentarismo. In: Simpósio de Ciências do Esporte. Anais... São Paulo: 96, 1994.


BARCELLOS, C.; IMBIRIBA, L.A. Alterações posturais e do equilíbrio corporal na primeira posição em ponta do balé clássico. Revista Paulista de Educação Física, v.16, n.1, pp. 43-52, jan./jun. 2002.


BARELA, J.A. Estratégias de controle em movimentos complexos: ciclo percepção-ação no controle postural. Revista Paulista de Educação Física. Sup. 3, p.79-88, 2000.


BARELA, J.A.; POLASTRI, P.F.; GODOI, D. Controle postural em crianças: oscilação corporal e freqüência de oscilação. Revista Paulista de Educação Física. v.14 n.1: p.55-64, jan./jun. 2000.


BRACCIALLI, L.M.; VILARTA, R. Postura corporal: reflexões teóricas. Revista Fisioterapia em Movimento. v. XIV, n. 1, abr./set. 2001.


DOUGLAS, C.R. Tratado de fisiologia aplicada à saúde. 5ª ed. São Paulo: Robe Editorial, 2002.


DUARTE, M.; ZATSIORSKY, V.M. Effects of body lean and visual information on the equilibrium maintenance during stance. Experimental Brain Research, n. 146, pp. 60-69, 2002.


ENOKA, R.M. Bases neuromecânicas da cinesiologia. 2 ed. São Paulo: Manole, 2000.


FRIEDMAN, J.J. O ouvido: aparelho vestibular. In: SELKURT, E.E. Fisiologia. 5 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1986.

GARDINER, D. Manual de terapia por exercícios. 2 ed. São Paulo Editora e livraria santos, 1986.


GODOI, D.; BARELA, J. A. Mecanismo de ajustes posturais feedback e feedforward em idosos. Revista Brasileira de Ciência do Esporte. v. 23 n.3, maio 2002.


GUIDETTI G. Diagnosi eterapiai del disturbi dell’equilibrio. 2 ed, Roma, Marropense, 1997.



HENNEMAM, E. Fisiologia médica. 13 ed., Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1982. HORAK, F. B.; MacPHERSON, J. M. Postural orientation and equilibrium. In: ROWELL, L. B.; SHEPARD, J. T., eds. Handbook of physiology. New York, Oxford University Press, 1996.


IL BAROPODÔMETRO. Diagniostic support s.r.l. biomédica posturale. Disponível em: <http://www.diasu.com/spa/mainpm.htm>. Acesso em: 29 de out. 2003.


LATASH, M.L. Neurophysiological: basis of movement. The Pennsylvania State University: Human Kinetics, 1998.


MANUAL DE AVALIAÇÃO DA POSTURA COMPUTADORIZADA. Análise postural. MICROMED BIOTECNOLOGIA, versão 3,0, pp. 72-81. Brasília: 1998.



MASSARA, G. Alterazione morfologiche dell etas evolutiva. Chinesionoloia Scientifica. v. 4, n. 4, pp. 25-29, 1986.


OLIVEIRA, L.F.; IMBIRIBA, L.A.; GARCIA, M.A. C. Índice de estabilidade para avaliação do equilíbrio postural. São Paulo: Revista Brasileira de Biomecânica. v. 1, n.1, pp. 33-38, 2000.


PERRIN, P.; DEVITERNE D.; HUGEL F.; PERROT, C. Judo, better than dance, develops sensorimotor adaptabilities involved in balance control. Gait and Posture. v. 15, pp. 187-194 2002.

SMITH L.K.; LEHMKUHL, L.D.; WEISS E.L. Cinesiologia clínica. 5 ed. São Paulo: Manole, 1997.


TAVARES, P.; FURTADO, M.; SANTOS, F. Fisiologia humana. Rio de Janeiro: Atheneu, 1984.


VANDER A. J.; SHERMAN J. H.; LUCIANO D. S. Fisiologia humana. 3 ed., São Paulo: Mcgraw-Hill, 1981.

Compartilhar no Google Plus
    Comentar com Facebook
    Comentar com Blogger

0 comentários:

Postar um comentário

Por favor, não utilize palavras feias. Obrigado.