Parte da população sofre de males diversos quando muda o tempo ou a estação. Estudar os efeitos físicos e psíquicos do clima na saúde é o objetivo da biometeorologia.
A influência das condições meteorológicas e das alterações bruscas do estado do tempo na saúde constitui uma evidência, como podemos comprovar de cada vez que se aproxima uma frente fria ou uma alteração da pressão atmosférica e muitas pessoas começam a sentir enxaquecas, dores nas articulações ou desconforto em antigas lesões. Descobrir as variáveis do clima que mais nos afetam e os seus sintomas tem sido um objetivo primordial da medicina desde os seus primórdios. No século V a.C., Hipócrates afirmava, na obra Ares, Águas e Lugares, que os futuros médicos deveriam “considerar os efeitos de cada estação do ano, assim como os ventos quentes e frios e, especialmente, os específicos de cada região”.
Essa disciplina é hoje a biometeorologia médica, que concentra os seus esforços em estudar a influência das variáveis sazonais na saúde, não só física como, também, psíquica. Por exemplo, um estudo recente do Hospital Psiquiátrico Universitário Institut Pere Mata, de Tarragona (Espanha), estabeleceu uma relação direta entre a temperatura ambiente e o número de internamentos hospitalares, os quais aumentam consideravelmente a partir dos 26 ºC. Foi também detetada uma tendência para episódios maníacos, no verão, e para quadros depressivos, no inverno.
No seu conjunto, “as pessoas que preveem com alguma antecedência os estados do tempo ou que reagem a alguns tipos de clima com hipersensibilidade, ansiedade, fadiga ou alterações do estado de humor podem ser consideradas meteorossensíveis”, afirma o catedrático de psiquiatria António Bulbena. Seja como for, a meteorossensibilidade não é sempre negativa, segundo este especialista: “Por exemplo, alguns indivíduos experimentam uma sensação de bem-estar depois da chuva.”
Independentemente de os efeitos sobre o organismo de cada um serem positivos ou negativos, a influência das condições meteorológicas na saúde está suficientemente demonstrada para que se compreenda a importância da prevenção em função das informações meteorológicas: se forem adotadas medidas a tempo, será possível evitar problemas que podem, em alguns casos, chegar a ser fatais.
Frio e mudanças bruscas
Nas últimas décadas, registaram-se, pois, grandes avanços na prevenção dos efeitos das vagas de calor ou da contaminação atmosférica. No caso das patologias psíquicas, estamos apenas a dar os primeiros passos. Os especialistas sabem que há mais pacientes a queixarem-se de ansiedade ou depressão quando chega a primavera, ou então, como se tem verificado nos últimos anos, a passagem brusca do inverno para o verão, praticamente sem um período primaveril, conduz à agudização dos sintomas provocada pelas mudanças súbitas de temperatura e de intensidade da luz solar, pelo que se torna muitas vezes necessário o recurso a algum complemento farmacológico.
Os agentes atmosféricos que mais influenciam o estado de saúde são a temperatura, a pressão atmosférica, a radiação solar, a poluição, a ionização aérea e a humidade do ar. Em conjunto ou isoladamente, estas propriedades da atmosfera que nos rodeia podem causar patologias físicas e psíquicas pela dificuldade do organismo em adaptar-se a mudanças drásticas. Os sintomas físicos (constipações, dores reumáticas, crises de hipertensão, dores de garganta, agravamento da doença pulmonar obstrutiva crónica e da asma, variações nos níveis de glicémia, ou quantidade de glicose no sangue) são mais frequentes em pessoas com problemas respiratórios e cardiovasculares.
Quanto às patologias psíquicas, a dificuldade em adaptar-se às alterações atmosféricas transfere-se para substâncias de natureza complexa, que se movem entre os espaços interneuronais: é o caso da serotonina, da dopamina e da noradrenalina, neurotransmissores que configuram o mapa pessoal bioquímico e que se modificam com as mudanças do tempo.
A perturbação que as alterações meteorológicas produzem na atividade neurotransmissora do cérebro afeta o estado de humor e, em casos extremos, pode agravar certas doenças mentais. As mudanças de tempo pontuais e momentâneas afetam mais a ansiedade, enquanto outras alterações climáticas, como a variação na duração do dia, se traduzem em problemas afetivos (euforia, depressão ou distúrbios bipolares).
Sensibilidade exacerbada
Estima-se que entre 15 e 30 por cento da população seja sensível à meteorologia e sofra de diversas patologias quando o tempo ou a estação mudam. Em geral, não se trata de problemas graves, mas de sintomas incómodos ou de um agravamento de doenças já existentes. Por exemplo, o frio provoca vasoconstrição periférica com aumento do metabolismo basal. O calor, pelo contrário, provoca vasodilatação, transpiração abundante e perda de água e eletrólitos através da pele. Com temperaturas extremas, pode ocorrer um golpe de calor que cause hipertermia, desidratação, dor de cabeça e alterações do sistema nervoso. A tendência para este tipo de sensibilidade é mais acentuada nas mulheres, em especial nas que se encontram no período pré-menstrual ou durante a menopausa.
Fonte: www.superinteressante.pt
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